Imagem (2)

Se se procurar a definição de imagem em qualquer dicionário generalista, teremos uma série de enunciações possíveis, variando de representação concreta a representação imaginária; de figuração a invenção; de registo a especulação. Se mais se quiser e adicionarmos todas as cambiantes, é quase infindo o que imagem quer dizer. Num certo sentido, mais do que realidade propriamente dita, implica a noção de reflexo. Platónica referência a sombras e cavernas do mito… Reflexo porque dificilmente efectiva.
A fotografia assume parte desse pendor. Não se descortina a possibilidade de possuir o que se retrata, ultrapassados os primitivos receios da perda de alma que o click acarretaria. Por agora faz-se vocação de possuir o que está implicado por entre a moldura (imaginária). Ou seja, passámos da denotação pura, à conotação extrema e por mais que se procurem outros meios, sempre se volta ao pressuposto de um encadeamento.
As “séries” foram talvez a abordagem mais radical do primeiro dos conceitos. O alcance deveria consumir-se na imagem, guardando em conteúdo a “verdade” do exposto. O casal Becher fê-lo. Outros seguiram. Num outro instante, a fotografia não já como repositório maleável de uma obra. Não já instrumento de trabalho mas memória do trabalho mesmo, salvaguarda da sua existência. Richard Long é disso paradigma, em grande medida.
Menos que isso, menos que esse impulso, se pode observar na questão do domínio público da utilização da imagem e da técnica fotográficas. Nunca como Hoje se fez tão acertado o aviso de Walter Benjamin acerca da quantidade de fotógrafos e fotografias. Tantos que se perderia a noção do que efectivamente estava registado no seu “trabalho”. Se isso é um mau ou um bom desenvolvimento e se a permanência da memória se fará através das disponibilizações online de um manancial potencialmente inesgotável de criadores é uma discussão que se pretende noutra instância. O que é facto é que um instrumento de uso sempre controverso, se tornou um desafio à privacidade, no entendimento de que o que somos se pode tornar visível e menos problemático quando incidindo sobre a visão. Será?
Imagem: BECHER, Bernd e Hilla - Typologies of Industrial Buildings. MIT Press: 2004.